No final de março deste ano, CEOs representando organizações inovadoras líderes do mundo todo se juntaram à McKinsey & Company, em colaboração com o Fórum Econômico Mundial, para discutir sobre o futuro da manufatura. Centenas de milhares de participantes de dezenas de indústrias se conectaram para ouvir o CEO da Microsoft, Satya Nadella, o presidente e CEO da Johnson & Johnson, Alex Gorsky, além de onze CEOs de empresas que se uniram recentemente à Global Lighthouse Network, uma comunidade de empresas globais líderes que utilizam tecnologias da 4IR para ir além da melhoria da produtividade a fim de gerar crescimento rentável e sustentável.
O diálogo foi editado para fins de clareza e legibilidade.
“A digitalização tocará todos os aspectos do nosso negócio”, disse Alex Gorsky, da Johnson & Johnson. “Não consigo imaginar, daqui a dez anos, se ela estará nos nossos negócios, na nossa manufatura ou nos nossos sistemas financeiros ou de recursos humanos – [a digitalização] estará simplesmente embutida em todos os processos, todas as funções e em todas as conexões que fizermos.”
Oportunidades de crescimento únicas
Ao empregar tecnologias 4IR em escala, as empresas “faróis” (lighthouses) estão criando novos fluxos de receita por meio de novos modelos de negócios. Essas empresas estão em contato mais próximo com os desejos de seus clientes e, ainda que suas preferências estejam mudando mais rapidamente que nunca, elas desenvolveram a capacidade de responder rapidamente e ganhar participação de mercado no vazio deixado pelas empresas que ficaram presas no que chamamos de “purgatório dos pilotos”. De fato, ficar preso na fase do piloto é uma sensação ainda mais comum em 2020. A tendência de três anos mostra que o escalonamento das tecnologias da Indústria 4.0 está retrocedendo. As empresas industriais viram seus investimentos passarem por um teste de estresse e, como resultado, notaram que não haviam escalonado tanto quanto imaginavam.
“Sinto que a resiliência gerada pela tecnologia digital agora se tornou imprescindível”, afirmou Nadella em seu discurso. “Agora temos essas ferramentas low code/no code que permitem aos especialistas de domínio realizarem automação de ponta para continuar alavancando a produtividade. Assim, a adoção de uma quantidade de tecnologia digital surpreendente para superar as restrições da pandemia é, na minha opinião, o que será uma mudança radical”.
Para preparar as operações para um futuro sustentável e dominado pelas tecnologias digitais, as empresas deverão encontrar caminhos para ampliar o valor, desde a liderança até a linha de frente, com tecnologia escalonável capaz de apoiar os objetivos do negócio.
Com base nos aprendizados de executivos líderes de manufatura do mundo todo, apresentamos a seguir os diversos fatores que os executivos devem ter em mente ao preparar-se para liderar suas organizações rumo a um futuro digital.
Transformação tecnológica com abordagem holística, não atomística
Atualmente, todas as empresas precisam ser empresas de tecnologia – maximizar a produtividade já não é suficiente. Para alimentar qualquer esperança de obter uma vantagem competitiva duradoura, as empresas – e os CEOs – sabem que suas operações têm impacto em muitas áreas além da produtividade, incluindo uma maior sustentabilidade ambiental, inovação mais rápida, maior satisfação do cliente e força de trabalho mais engajada – todas juntas, ao mesmo tempo em que melhora significativamente o desempenho financeiro e operacional.
Ao preparar-se para o futuro, os executivos devem ter em mente que a 4IR não se refere apenas ao processo de produção, mas do todo o modelo operacional, com uso de tecnologia somente onde ela for importante. Para que a verdadeira transformação digital tenha um impacto mensurável, é fundamental ativar a tecnologia 4IR em toda a organização, independentemente do ponto em que se encontram na jornada digital.
“A combinação dos mundos físico e digital realmente tem feito a diferença se você quiser alavancar a produtividade para além dos níveis que conhecemos”, afirmou Rolando Busch, CEO da Siemens, representando uma nova empresa farol na Alemanha. “Ela está reduzindo o tempo de ciclo? O consumo de energia? E, principalmente, está fazendo mais com menos? Isso é o que a combinação dos mundos físico e digital nos permite fazer. Então, ao adotar essas tecnologias, o que fazemos é ajudar nossos clientes a reduzir a inspeção de qualidade, por exemplo. Há vários exemplos nos quais essa combinação faz muita diferença.”
Tomemos o caso da Tata Steel que implementou múltiplas tecnologias em sua fábrica de 110 anos de existência na Índia. Em procurement, as tecnologias de machine learning e advanced analytics realizaram economias de cerca de 4% nos custos de matérias-primas, enquanto nas áreas de planejamento de produção e logística o analytics preditivo reduziu em 21% o custo de atendimento ao cliente.
Com vistas ao futuro, o CEO e diretor executivo da Tata Steel, T. V. Narendran, declarou: “Acredito que uma das áreas nas quais podemos trabalhar é a melhora da experiência dos stakeholders por meio do emprego de tecnologias da Quarta Revolução Industrial. Tais stakeholders poderiam ser os fornecedores, os clientes, os funcionários ou a comunidade.”
Sustentabilidade ambiental
Avanços recentes em manufatura, que combinam inovações tecnológicas com modelos de negócio emergentes, criam uma oportunidade para as empresas desenvolverem um ecossistema de manufatura neutro em emissões de carbono, além de estimularem um crescimento rentável. Muitas dessas eficiências aprimoradas atuam no sentido de reduzir a geração de resíduos, o consumo de recursos e as emissões.
Mesmo com a disrupção nas operações causada pela COVID-19 em todas as indústrias no mundo todo, as fabricantes faróis conseguiram criar novos fluxos de receita, ao mesmo tempo em que alavancaram sustentabilidade ambiental: 53% delas estão vendo benefícios em relação à sustentabilidade ambiental mensuráveis e evidentes. Algumas observaram uma redução quase total das emissões de CO2, aumento de dois dígitos em eficiência e grandes reduções no uso de matérias-primas.
A fabricante de bens de consumo Henkel visa alcançar sustentabilidade climática positiva com o objetivo de triplicar sua criação de valor em relação a sua pegada ambiental até 2030. “Para atingir as metas de sustentabilidade de longo prazo, a adoção das tecnologias da Quarta Revolução Industrial é fundamental”, afirmou Carsten Knobel, CEO da Henkel. “Continuaremos transformando em grande escala. Um exemplo nesse contexto é o uso de capacidades de machine learning para otimizar processos que requerem uso intensivo de energia”.
Para gerar mais melhorias na produtividade e impulsionar a sustentabilidade da empresa, a Henkel desenvolveu sua estrutura digital a fim de escalonar as tecnologias 4IR, conectando seus sistemas físicos e digitais em toda sua fábrica de Montormès, na Espanha. Como resultado, a empresa reduziu os custos em 15%, acelerou o time-to-market em 30% e diminuiu sua pegada de carbono em 10%.
Embora os líderes da indústria reconheçam a necessidade de reduzir a pegada ambiental de suas organizações, eles costumam ter dificuldade para definir ações com base em um caso de negócio claro de investimento. As diferentes aplicações das tecnologias 4IR já estão melhorando a resposta aos desafios globais como as mudanças climáticas e a pandemia.
“Acreditamos que a sustentabilidade é uma parte absolutamente essencial do cuidado com a saúde, pois se não criarmos um ambiente mais limpo e mais sustentável ou se não estivermos contribuindo para isso, não estaremos realizando nossa missão de melhorar a saúde das pessoas ao redor do mundo”, afirmou Gorsky.
Engajamento da força de trabalho
Cada vez mais, as organizações líderes estão conectando e escalonando soluções digitais ao longo de toda a sua cadeia de valor, incluindo as redes de produção, as cadeias de valor de ponta a ponta e as funções de suporte, tais como RH, financeiro e TI. E as formas de trabalhar, por sua vez, também estão evoluindo. O imperativo para o rápido desenvolvimento e a implementação de novas soluções requer uma aceleração na adoção de metodologias ágeis com equipes multifuncionais reduzidas e processos iterativos rápidos. O principal vínculo está na habilidade das empresas para requalificarem talentos no mesmo ritmo e escala que a tecnologia.
A HP Singapura enfrentava um aumento na complexidade dos produtos e escassez da mão de obra (resultando em desafios de custo e qualidade), juntamente com um movimento nacional de focar em manufatura de mais alto valor. Apesar disso, a empresa embarcou na jornada de transformação 4IR da sua fábrica, que deixou de ser manual, reativa e intensiva em mão de obra para tornar-se altamente digitalizada, automatizada e orientada por inteligência artificial. Com isso, a empresa melhorou seus custos de manufatura em 20% e sua produtividade e qualidade em 70%.
Esse nível de transformação é possível somente por meio de uma força de trabalho empoderada com capacidades elevadas. As empresas faróis estabelecem jornadas de aprendizado para os diferentes papéis e estimulam os funcionários a ir além em suas jornadas de aprendizagem contínua e de exploração de áreas de interesse.
O CEO da Ericsson, Börje Ekholm, que possui uma nova localidade farol nos Estados Unidos, fez eco da necessidade de empoderar a força de trabalho, dizendo: “Há muito a ganhar em termos de pessoas, ou seja, a forma como treinamos, desenvolvemos e empoderamos nossos colaboradores. Acho que é nesse ponto que devemos focar nossa atenção. Na verdade, não é uma questão de tecnologia, é uma questão de mentalidade”.
Organizações bem-sucedidas serão aquelas que mantêm a força de trabalho no cerne da abordagem digital para que sua transformação seja duradoura. Estratégias vinculadas a formas de requalificação ajudam a assegurar que os trabalhadores se mantenham conectados, integrados e diretamente envolvidos nas transformações, além de proporcionar a eles a expertise necessária para contribuir em futuras inovações.
“Acredito que a forma como abordamos a aprendizagem e a qualificação também sofrerá mudanças estruturais – as quais, a propósito, terão ótimos resultados em termos de produtividade no futuro”, afirmou Nadella. “Aquela ideia de colaboração, aprendizagem, bem-estar e flexibilidade – que eu chamaria de próximo nível de liderança esclarecida na gestão e as políticas em torno disso – é o que espero que ocorra em todos os setores”.
Esperamos que as histórias dos líderes da Global Lighthouse Network tenham sido inspiradoras. Gostaria de fazer parte da rede de inovadores influentes?
A rede continua expandido e está aberta a organizações excepcionais que adotam as tecnologias da Quarta Revolução Industrial em escala, em diversas localidades e de ponta a ponta em suas cadeias de valor. Saiba mais sobre como unir-se à rede aqui.