A atividade econômica mundial depende fundamentalmente do capital natural, que é o estoque mundial de ativos naturais. Mas hoje o capital natural está se esgotando rapidamente, o que tem consequências cada vez mais tangíveis, desde a escassez de água na Califórnia até a crise do nitrogênio na Holanda.
Este artigo é o resumo de um relatório completo no qual analisamos o estado do capital natural, os setores econômicos que dependem dele e que o afetam, e as oportunidades para as empresas ajudarem a reduzir essas demandas. Ele marca uma primeira tentativa de identificar e dimensionar as ações que as empresas podem adotar para agirem como catalisadoras a fim de colocar o planeta de volta em uma "rota segura de operação para a humanidade".
Este tema é crítico: o capital natural está em declínio em várias dimensões. Segundo estimativas, a demanda atual de recursos é pelo menos 1,8 vez maior do que a Terra parece ser capaz de prover de forma sustentável1. No entanto, o fatalismo seria equivocado. Uma de nossas principais descobertas é que, embora uma série de setores da economia contribua para essa exaustão do capital natural, ações específicas adotadas por empresas que utilizam as tecnologias atuais (e apoiadas por ações capacitadoras mais amplas de toda a sociedade) poderiam não apenas reverter a tendência, mas também gerar um retorno positivo sobre o investimento (ROI) em um grande número de casos.
A atividade humana levou o planeta para fora de um "espaço operacional seguro" em quatro limites planetários
Para estruturar nosso estudo, usamos as mais recentes pesquisas científicas sobre limites planetários. Introduzidos em 2009 e atualizados em 2015, esses limites planetários estabelecem um modelo capaz de monitorar até onde o desenvolvimento humano pode chegar sem afetar de forma irreversível a capacidade regenerativa da Terra. Entender quais são esses limites, sua atual situação e como eles afetam a vida na Terra contribui para a elaboração de políticas públicas e mudanças de hábitos.
Descobrimos que o impacto da atividade humana já está se estendendo além do espaço de operação seguro em pelo menos quatro limites: perda de biodiversidade, poluição química e plástica, poluição de nutrientes e emissões de gases de efeito estufa (GEE) (Quadro 1). Para outros dois limites (perda de cobertura florestal e consumo de água doce), o impacto atual da atividade humana é visto como dentro da "zona de incerteza". Para detalhes completos das definições e de nossa metodologia, consulte o apêndice técnico, que é publicado separadamente..
A perda da biodiversidade terrestre destaca-se, estando 2,7 vezes além do limite planetário, como se sabe atualmente, e 1,4 vez além dos níveis de 1970. Essa perda soa um alarme não apenas pelo impacto direto na humanidade, mas também pelos ciclos de feedback entre a biodiversidade e os demais limites planetários.
Outro limite que se sobressai é a poluição química e plástica. Estimamos que a economia mundial emita atualmente 2,6 vezes mais plástico em fontes de água a cada ano do que em 2010, afetando negativamente espécies, ecossistemas e teias alimentares, e reduzindo a capacidade dos oceanos de sequestrar carbono.
No caso do Brasil, a agricultura é uma das atividades que mais pode contribuir para colocar o mundo de volta em uma rota segura.
Como parte de nossa análise dos limites planetários, estimamos as contribuições dos setores econômicos para a posição atual de cada limite. Com base nessa análise, o setor agrícola em particular tem o maior impacto direto (Quadro 2).
O setor de vendas e serviços no varejo (que inclui varejo, serviços de hotelaria e alimentação, TI, finanças, seguros, serviços profissionais e de suporte, educação, saúde e entretenimento) também contribui de forma significativa para o impacto sobre a natureza em vários limites, especialmente a poluição química e por plástico.
Os sistemas de alimentação têm o impacto mais significativo no meio ambiente: é o setor que mais contribui para cinco das nove variáveis de controle de limite planetário que avaliamos. Nossas estimativas de ponto médio sugerem que a agricultura responde por 72% do consumo de água doce, 61% da poluição causada por liberação de nitrogênio e 32% da perda da biodiversidade terrestre. Estimamos que a pecuária seja o setor que mais contribui para a perda de biodiversidade (53%), e que a poluição por fósforo seja o segundo maior contribuidor para o escoamento e deposição de nitrogênio (51%).
O impacto desproporcional estimado da agricultura decorre do uso direto da terra e da forte influência de setores ligados a ela até o final da cadeia, como a indústria de processamento de alimentos. Portanto, muitas ações que abordariam o impacto da agricultura no capital natural exigiriam mudanças comportamentais e operacionais sustentadas de atores até o final da cadeia, de domicílios individuais a compradores de produtos agrícolas, incluindo empresas de processamento de alimentos, supermercados e restaurantes.
De acordo com nossas estimativas de ponto médio, as vendas e os serviços no varejo respondem por 77% da poluição química e por plástico (medida pela emissão de resíduos plásticos em ambientes aquáticos). Pesquisas (em inglês) anteriores da McKinsey identificaram que o setor de energia e a indústria são os que mais contribuem para as emissões de GEE que causam as mudanças climáticas.
A ação corporativa pode ajudar a colocar o capital natural em uma trajetória rumo à recuperação até 2050
Nossa pesquisa sugere que as empresas têm o potencial de mudar a trajetória global do capital natural e estabelecer o retorno a um espaço seguro de operação para a humanidade até 2050. Ela também sugere que as empresas poderiam promover a mudança por meio de um conjunto de ações direcionadas que usem as tecnologias existentes e, em muitos casos, possam proporcionar retornos positivos sobre o investimento.
A pesquisa avalia o efeito de 47 potenciais ações corporativas em cinco limites planetários: perda de biodiversidade, perda de cobertura florestal, consumo de água doce, poluição química e por plástico e poluição por nutrientes.
Em geral, nossa análise sugere que a ação corporativa pode recolocar o mundo em níveis seguros em três dos limites planetários: perda de cobertura florestal, consumo de água doce e poluição por nutrientes. As alavancas dimensionadas também podem endereçar 48% da cobertura projetada do limite em termos de biodiversidade (chegando perto do nível pré-1970) e 60% do limite identificado para poluição química e por plástico. O Quadro 3 destaca o potencial de abatimento identificado em todos os limites analisados.
Embora a ação corporativa possa fazer a diferença, nossa análise sugere que ela não é suficiente por si só. Alavancas da "sociedade inteira", como a conservação da natureza ou mudanças na dieta do consumidor, podem ajudar a eliminar as lacunas remanescentes, assim como tecnologias que ainda não estão amplamente disponíveis, como aquelas que podem quebrar o plástico ou estender a vida útil dos alimentos.
O potencial de abatimento que apresentamos assume que: cada oportunidade é, quando viável, buscada de forma sistemática e completa em todo o mundo; haja colaboração e coordenação entre parceiros upstream e downstream (por exemplo, entre fazendeiros e compradores de produtos agrícolas); e que os formuladores de políticas e outros stakeholders criem condições viabilizadoras. Fizemos outras suposições simplificadoras que estão descritas em detalhes no relatório completo.
Quase metade do potencial estimado de abatimento pode gerar um retorno positivo sobre o investimento
Com base em nossas estimativas de ponto médio, 12 alavancas podem ter um ROI líquido positivo em valores de 2022. Se totalmente implementadas, essas alavancas poderiam entregar cerca de 45% do potencial total de mitigação identificado, totalizando um benefício anual de cerca de $ 700 bilhões, líquido de custos. Essas alavancas incluem a mudança para a agricultura regenerativa, a redução do desperdício de alimentos e a implementação de novos modelos de entrega (como programas de devolução de embalagens reutilizáveis) para reduzir a produção e a poluição por plástico.
Quatro alavancas (agricultura de precisão para áreas cultiváveis, agricultura regenerativa em pastagens, reciclagem de plástico para construção e reciclagem mecânica) podem entregar 8% do potencial de mitigação identificado a um custo líquido de cerca de $ 15 bilhões por ano.
Estima-se que 20 alavancas tenham ROI negativo em valores de 2022. Se totalmente implementadas, elas podem entregar cerca de 55% do potencial de mitigação identificado a um custo anual, líquido de economias, de cerca de $ 1,5 trilhão. As alavancas incluem agrossilvicultura, controle biológico de pragas, irrigação por gotejamento, técnicas de manufatura com eficiência no uso da água e plástico biodegradável para embalagens.
Essas estimativas aproximadas de ROI deverão mudar ao longo do tempo. Novas tecnologias podem reduzir custos e novas políticas e expectativas de investidores podem incentivar uma maior responsabilidade pelos impactos na natureza. Por outro lado, os custos podem ser maiores, ou os retornos mais baixos, devido a desafios localizados de adoção ou adoção lenta.
A ação corporativa na natureza teria uma sobreposição significativa com a ação climática.
As ações para enfrentar a perda de capital natural se sobrepõem às atividades de descarbonização que as empresas já contemplam ou têm no horizonte. Os custos acima excluem o custo total de ação sobre o clima, mas há sinergias (em inglês).
Para a nossa pesquisa, incluímos as alavancas de abatimento de carbono apenas se elas apresentassem potencial de abatimento nos limites planetários sem carbono; 13 de 47 alavancas atendem esse critério. Nove dessas 13 alavancas, incluindo agricultura regenerativa e de precisão, irrigação por gotejamento e geração de energia solar e eólica, juntas podem eliminar 64% da lacuna estimada para o limite de água doce, 44% da lacuna para poluição por nutrientes e 5% da lacuna para perda de biodiversidade. Estimativas sugerem que essas nove alavancas também podem abater 15 Gt métricas de CO2e das emissões por ano, ou cerca de 40% das emissões anuais em 2020.
Agricultura e outros setores podem contribuir significativamente para abater a perda de capital natural.
Ao redor do mundo, a agricultura é o setor que mais contribui para a degradação do capital natural, seguida pelo setor de vendas e serviços no varejo (que inclui varejo, serviços de hotelaria e alimentação, TI, finanças, seguros, serviços profissionais e de suporte, educação, saúde e entretenimento) e o setor de energia.
A agricultura tem a maior oportunidade de enfrentar os excessos projetados ou lacunas nos limites planetários de biodiversidade, água doce e nutrientes até 2050. As alavancas de agricultura representam 72% da melhoria total identificada em perda de biodiversidade, tratando 35% do excesso global até 2050, de acordo com estimativa de ponto médio de nossa análise. Este setor também pode recolocar o mundo dentro do limite planetário de perda de cobertura florestal, tratar 82% da lacuna do limite de consumo de água doce e atender 94% da lacuna de poluição por nutrientes em 2050.
No caso do Brasil, a agricultura é uma das atividades que mais pode contribuir para colocar o mundo de volta em uma rota segura. Práticas que os agricultores brasileiros já conhecem e realizam, como a agricultura regenerativa, têm um potencial gigantesco de impacto. Conforme aponta nosso estudo sobre o Mercado Voluntário de Carbono brasileiro, em cerca de 50% da área de pasto atual é possível conquistar retornos financeiros relevantes com créditos de carbono de alta qualidade e integridade, substituindo a atividade de pecuária extensiva por projetos de restauração ou florestamento – como a integração lavoura-pecuária-floresta, desenvolvida pela Embrapa.
Projetos afins respondem por cerca de 80% do potencial brasileiro. Além de atender à demanda de empresas que buscam créditos de sequestro de carbono, eles oferecem múltiplos outros benefícios, como recuperação de biodiversidade, impacto positivo nas comunidades locais e segurança hídrica, entre outros.
As estimativas de ponto médio indicam que 8 alavancas, se totalmente implementadas, podem ter a maior eficácia no combate aos impactos do setor da agricultura na natureza. Dessas alavancas, quatro requerem colaboração de toda a cadeia de suprimento, mas o setor agrícola pode implementar quatro diretamente:
- A agricultura regenerativa, que inclui a plantação de cultivos de cobertura e o uso de plantio direto, pode abordar três de cinco limites planetários ao minimizar a perturbação do solo, limitar as perdas por uso consuntivo de água e a melhoria dos habitats. Em escala, ela pode mitigar 8% da lacuna projetada para 2050 para o limite de biodiversidade, 5% da lacuna de limite de consumo de água doce e 16% da lacuna de limite de poluição por nutrientes. Estimamos que, se totalmente implementada, a agricultura regenerativa pode reduzir os custos operacionais e de insumos nos cultivos e gerar $65 bilhões em valor anualmente.
- Agrossilvicultura, que inclui a plantação de árvores em áreas de cultivo e pastagens e a implementação de faixas de amortecimento de cobertura de vegetação natural, é a maior alavanca de biodiversidade, de acordo com as nossas estimativas. Assumimos que ela seria implementada de forma que não afete a produção. Combinada, agrossilvicultura em áreas de cultivo e pastagens pode reduzir 11% da lacuna projetada para 2050 do limite de biodiversidade em áreas de cultivo e pastagens por um custo de aproximadamente $180 por hectare. Estimamos que a mitigação total custaria $300 bilhões globalmente por ano.
- Técnicas de agricultura com eficiência no uso da água (incluindo irrigação por sulcos, irrigação por gotejamento otimizada e sementes que otimizam o uso da água) podem reduzir o consumo de água doce e eliminar 19% do excesso global projetado até 2050. Estimamos que a agricultura de uso eficiente da água pode gerar $40 bilhões em valor líquido globalmente por ano a partir da redução do consumo quando totalmente implementada.
- Técnicas de gestão de esterco, incluindo digestores anaeróbicos em grandes fazendas e sequestro de esterco em fazendas menores, podem reduzir em 39% o excesso projetado de escoamento superficial de nitrogênio e em 32% o excesso projetado de poluição por fósforo. Ambas as técnicas podem envolver o aumento do investimento na infraestrutura necessária e nos custos operacionais. Estimamos que o custo anual líquido global será de $45 bilhões.
Quatro outras alavancas podem afetar a linha de base da agricultura, mas exigiriam uma parceria sólida entre o setor agrícola e os setores ligados a ele. Nossas estimativas sugerem que as alternativas à base de plantas para carne e laticínios, tecnologia avançada de sementes (incluindo sementes modificadas geneticamente) e a redução de perda e desperdício de alimentos por meio da otimização no abastecimento poderiam ajudar a colocar a economia novamente dentro dos limites. Juntas, essas alavancas podem eliminar 23% da lacuna de limite planetário de biodiversidade, 100% da lacuna de limite de perda de cobertura florestal, 45% da lacuna de consumo de água doce e 55% da lacuna de poluição por nutrientes (gerando simultaneamente economias líquidas para as empresas). Tecnologia avançada de sementes e redução no desperdício de alimentos teriam ROI positivo, com uma oportunidade de economias anuais líquidas de $320 bilhões. A adoção pelas empresas de alternativas à base de plantas (que demandaria precificação em prejuízo para atingir paridade com os produtos de base animal e levar à adoção) está atualmente estimada como tendo ROI negativo e pode ter um custo anual de $370 bilhões.
Atores não agrícolas também podem adotar ações para contornar seus impactos diretos. As quatro ações seguintes têm potencial significativo de abatimento::
- Mudar para energia solar e eólica pode reduzir o consumo de água doce em 12% da lacuna para o limite planetário e reduzir a poluição por nutrientes em 4%. Nossa estimativa sugere que implementar mudança para geração de energia de baixo custo pode oferecer valor líquido de $95 bilhões anualmente por meio dos custos operacionais menores.
- Abordar o descarte de plástico reduzindo a quantidade de plástico nas embalagens, implementando novos modelos de entrega (por exemplo, programas de retorno de embalagens reutilizáveis), expandindo reciclagem mecânica e química de plástico e utilizando bioplástico compostável pode ajudar o setor de vendas e serviços no varejo a eliminar 52% da poluição por plástico. A redução de plásticos e os modelos alternativos de entrega podem ter ROI positivo e oferecer cerca de $35 bilhões anualmente pela diminuição da quantidade de plástico necessária. As demais alavancas teriam ROI negativo, custando $40 bilhões anualmente com o aumento dos custos operacionais e de capital.
- Medidas florestais sustentáveis (como desbaste variável em vez de corte raso, criação de faixas de amortecimento, subsolagem e técnicas de silvicultura de multiespécies) podem ajudar o setor florestal a eliminar 5% do excesso em biodiversidade. Essas medidas podem resultar em um custo líquido estimado de $300 bilhões anualmente.
- A recuperação de minas, especificamente nas regiões onde não é atualmente exigida, não deve ser capaz de eliminar mais que 0,1% do excesso de perda de biodiversidade projetado para 2050. Porém, seria importante em nível local, e para outras medidas não quantificadas nesta análise, incluir a poluição das águas, a poluição química e a contaminação por metais pesados. A expansão dos esforços para recuperação de minas pode custar até $60 bilhões anualmente.
Quatro ações podem orientar os esforços corporativos na natureza
O manual de engajamento corporativo na natureza ainda está no estágio inicial de desenvolvimento. Algumas empresas estão começando a reconhecer as dimensões da natureza, como perda da biodiversidade, mas muito poucas definiram metas quantificadas e esses compromissos variam (em inglês).
Dadas todas as demandas que as empresas enfrentam em um ambiente macroeconômico desafiador, pode ser difícil saber por onde começar. Quatro etapas podem ajudá-las a encontrar o caminho.
Em primeiro lugar, as empresas podem avaliar seu impacto na natureza, ou seja, os tipos, magnitude e materialidade de seus impactos e dependências da natureza. Antes de definir uma estratégia para a natureza, as empresas precisam de transparência para garantir que possam mitigar os riscos, abordar os impactos no capital natural e identificar as oportunidades de negócio. As empresas podem selecionar métricas que abordem amplamente os impactos a partir de diversos indicadores já disponíveis.
Em segundo lugar, as empresas podem identificar quais de suas atividades têm potencial de reduzir impactos na natureza e de melhorar a performance. Para cada potencial alavanca específica, as empresas podem determinar o potencial de abatimento, quanto tempo seria necessário para gerar impacto, fontes de financiamento, possíveis retornos, entre outros fatores. A “hierarquia de mitigação” (um modelo internacional da International Finance Corporation do Banco Mundial) pode oferecer orientação quanto à ordem de prioridade das ações a adotar2.
Em terceiro lugar, as empresas podem definir metas iniciais para a natureza e níveis de compromisso, definir um conjunto de ações e integrá-las a um portfólio amplo de iniciativas. As empresas podem se basear em organizações como o Science Based Targets Network (SBTN) para ter uma referência sobre como estabelecer metas com tempo definido, com base científica e quantitativas, em linha com os limites planetários3. Elas podem criar um portfólio de iniciativas que inclui a implementação de alavancas de abatimento e possível investimento na natureza ou créditos de biodiversidade.
Em quarto lugar, as empresas podem monitorar constantemente o progresso em relação às suas metas e se preparar-se para comunicar a evolução. Várias organizações estão trabalhando para desenvolver métricas padronizadas de relatórios voluntários e a Taskforce on Nature-related Financial Disclosures (TNFD) desenvolveu orientações detalhadas em quatro pilares de divulgação: governança, estratégia, gerenciamento de riscos e métricas e metas4.
Ações corporativas na natureza precisariam vir acompanhadas de ações viabilizadoras de outros stakeholders
As empresas podem contribuir muito para apoiar o retorno a uma rota de operação segura para a humanidade, mas não podem atuar sozinhas. Outros stakeholders dos setores público e social terão um papel-chave a desempenhar no combate a problemas como elaboração de orientações regulatórias e de políticas, ausência de métricas ou definições padronizadas de natureza, dados sobre natureza amplamente comunicados e não padronizados, ausência de financiamento e incentivos financeiros, opções limitadas de investimento na recuperação da natureza e escassez de “habilidades verdes” necessárias. Três amplos conjuntos de ações viabilizadoras podem ajudar empresas e stakeholders a superar essas e outras barreiras:
Fornecer um modelo para ações das empresas voltadas à natureza. Requisitos padrão de relatórios sobre ações para a natureza podem ajudar as empresas a identificar que métricas são mais críticas e tornam as ações consistentes e comparáveis. Embora as empresas possam definir metas ambiciosas por si sós, os governos podem ajudar a incentivar ações corporativas mais amplas definindo orientações claras para ações voltadas à natureza e os resultados esperados.
Desenvolver e investir na infraestrutura (dados, habilidades e oportunidades) que pode ajudar a fundamentar as ações da empresa. Dados sobre a natureza costumam ser divulgados por diferentes fontes e podem ser difíceis de agregar e utilizar. Melhorar a disponibilidade de dados e a rastreabilidade da cadeia de suprimento são medidas-chave, juntamente com um aumento da oferta de treinamentos para desenvolver uma força de trabalho com o amplo conjunto de “habilidades verdes” necessárias para interpretar e usar dados sobre a natureza e fundamentar tomadas de decisão. As empresas também precisam de mais opções para investir na preservação de capital natural, algo que mercados de créditos cientificamente rigorosos e bem regulados podem oferecer.
Considerar a expansão de financiamento e incentivos. Financiar um caminho positivo para a natureza deve exigir mais recursos do que as abordagens atuais ao financiamento voltado à natureza podem dispor. Dado que 55% do potencial de abatimento identificado não gera um retorno de curto prazo sobre o investimento nas condições atuais, novos financiamentos, incentivos e formas de pensar são necessários para eliminar a lacuna de financiamento. Por exemplo, os governos podem considerar reavaliar subsídios ou usar contabilidade interna para precificar as externalidades da natureza e orientar a tomada de decisão. Os stakeholders financeiros também podem implementar políticas e criar novos produtos financeiros que ajudem a direcionar as fontes de financiamento para resultados voltados à natureza.
No ambiente econômico atual, as empresas enfrentam uma série de desafios, como retenção de talentos, pressões macroeconômicas, instabilidade geopolítica e problemas na cadeia de suprimento. Adotar ações voltadas à natureza não aumentaria a carga atual; pelo contrário, poderia trazer benefícios tangíveis para o capital natural e a receita das empresas. Construir capital natural será uma jornada que levará a um destino de mais prosperidade e a um ambiente econômico que opere dentro dos limites seguros.