Hoje em dia, a grande maioria dos adultos do mundo todo pode esperar viver décadas após se aposentar. O número de adultos de idade avançada1 mais do que dobrará até meados do século2, atingindo cerca de 1,6 bilhão e assinalando uma das mudanças demográficas mais profundas da história humana. No entanto, embora a sociedade global deva comemorar ter conquistado, em média, 20 anos adicionais de expectativa de vida desde 19603, ela não foi tão bem-sucedida em estender o período de vida saudável. Em média, uma pessoa viverá dez anos a mais com saúde média ou precária, o que afetará sua capacidade de viver a vida plenamente e levará a um aumento da dependência e da necessidade de assistência.
Tratam-se de desafios reais e profundos. Porém, o McKinsey Health Institute (MHI) acredita que essa mudança é muitas vezes vista por um prisma negativo, negligenciando-se as oportunidades apresentadas à medida que a sociedade adquire uma nova forma. Sugerimos expandir a tradicional divisão da vida em três fases – infância, maturidade e terceira idade – de modo a incluir o envelhecimento saudável. Nossa análise reconhece a realidade de que muitas pessoas viverão duas a três décadas após a idade de aposentadoria, período no qual se poderá optar por estar estudando aos 50 anos e trabalhando aos 80. A sociedade deve se concentrar na capacidade, e não na idade, reconhecendo o potencial de muitas pessoas contribuírem como voluntários, consultores, líderes comunitários, trabalhadores, membros de conselho, inovadores e familiares ativos.
O MHI identificou medidas relativas a seis mudanças importantes que podem permitir que governos, empresas de todos os setores, organizações sem fins lucrativos, stakeholders de saúde e bem-estar e indivíduos gerem melhorias no que tange ao envelhecimento saudável.
São elas:- investir na promoção do envelhecimento saudável
- aprimorar a mensuração em saúde e obter dados melhores
- escalar as intervenções que comprovadamente promovem o envelhecimento saudável
- acelerar as inovações em todo o ecossistema de envelhecimento saudável
- liberar o potencial que todos os setores têm de viabilizar o envelhecimento saudável
- empoderar e motivar os adultos de idade avançada a viver seu pleno potencial
No presente artigo, o MHI analisa os efeitos do envelhecimento da população, o framework para um envelhecimento saudável holístico e as medidas que podem ser tomadas em prol das seis mudanças.
Os efeitos do envelhecimento do mundo sobre a economia
Em 2050, o número absoluto de maiores de 65 anos mais do que dobrará, atingindo 1,6 bilhão de pessoas e crescendo de 9,4% para 16,5% da população total4. Embora isso reflita os benefícios da expectativa de vida adicional, a magnitude desse crescimento é inédita e criará desafios relacionados ao aumento da demanda de assistência e à mudança dos índices de dependência5.
Em 1950, para cada maior de 65 anos, havia 11,7 pessoas em idade ativa (tradução livre do termo working-age people, que representa a população em idade de trabalho, porém não necessariamente ativa) . Hoje, são sete, e esse número deve cair a 4,4 até 2040. Certas sociedades “superenvelhecidas”6, como as da Itália, do Japão e da Coreia do Sul, sofrerão mudanças mais drásticas. O Japão tinha 12 pessoas em idade ativa para cada adulto de idade avançada em 1950; hoje, são cerca de dois adultos em idade ativa e, em 2040, esse número poderá cair para pouco mais de 1,57. No total, o índice de dependência de adultos de idade avançada8 do mundo mais do que triplicará entre 1950 e 20509.
A urgência de agir varia de acordo com o país, determinada pela taxa de mudança esperada (Quadro 1). Países cuja população está envelhecendo mais lentamente – por exemplo, Gana, que, segundo as projeções, terá um índice de dependência de adultos de idade avançada de 8,4 até 204010 – têm um pouco mais de tempo para escalar as iniciativas bem-sucedidas implementadas pelos países superenvelhecidos. Ainda assim, mesmo para os países cuja população está envelhecendo a um ritmo mais lento, a proporção de maiores de 65 anos quase dobrará nas próximas décadas11.
Uma geração mais saudável e engajada de maiores de 65 anos tem o potencial de contribuir amplamente no mundo inteiro, seja na esfera profissional, seja na pessoal, seja na comunitária. Nos Estados Unidos, por exemplo, a faixa etária de mais de 50 anos contribuirá com $ 12,6 trilhões para a economia até 203012. No Reino Unido, estima-se que um prolongamento da vida profissional em um ano aumente o PIB em cerca de 1%13. Isso resulta em maior poder de compra e envolvimento ativo no lazer, o que estimula a criação de novos produtos e serviços adaptados às necessidades específicas desse grupo de consumidores.
Neste artigo, focamos no potencial do mundo em processo de envelhecimento, mas também reconhecemos os desafios que temos pela frente. Por exemplo, a necessidade de maior assistência aumentará devido tanto à elevação da expectativa de vida quanto às taxas de doenças neurodegenerativas14, sendo que mais de 150 milhões de pessoas no mundo todo deverão sofrer de demência até 205015. Cuidadores informais e formais e sistemas de saúde enfrentarão uma pressão maior, o que exacerbará a escassez crítica de enfermeiros e auxiliares de enfermagem domiciliares e cuidadores pessoais16. Da mesma forma, segundo projeções, o custo da saúde aumentará no mundo inteiro, passando dos atuais 8,6% do PIB a 9,4% até 205017. Esse impacto econômico poderá ser ampliado por possíveis reduções do PIB global causadas pelos anos perdidos por incapacidade, bem como pela morte prematura por doenças relacionadas à idade18. Diante desses desafios, o MHI reconhece que precisamos analisar o envelhecimento saudável por um prisma que englobe todas as quatro dimensões da saúde: física, mental, social e espiritual.
Entendendo os adultos de idade avançada de hoje
As quatro dimensões da saúde são moldadas por fatores influenciadores de ordem social e pessoal que respaldam uma visão holística da saúde (Quadro 2). A importância de uma abordagem mais holística da saúde foi demonstrada na prática. A título de exemplo, o Estudo com os Centenários de Okinawa, um estudo populacional de pessoas de 100 anos e outros adultos de idade avançada em Okinawa, no Japão, descobriu que a longevidade e a saúde eram reflexo da atividade física; de uma alimentação equilibrada, saudável e com restrição calórica; de um senso de pertencimento e rituais; de uma rede social de suporte (moai); e da existência de um propósito para começar cada dia (ikigai)19 (ver coluna “Exemplos de pessoas de todo o mundo mostram que o envelhecimento saudável é possível”).
A extensão do conceito de saúde para além de atributos físicos ressoa entre a população idosa. Uma pesquisa recente do MHI constatou que a maioria dos adultos de idade avançada acha que todas as quatro dimensões da saúde são importantes20. Um fato notável é que a percepção sobre a saúde e a qualidade de vida não diminuem necessariamente com a idade, o que ressalta a ideia de que a percepção das pessoas sobre a saúde pessoal extrapola o físico. Apesar de os entrevistados maiores de 65 anos serem mais propensos a ter um ou mais problemas de saúde, dois terços relataram a percepção de que sua saúde geral é boa ou muito boa. Outra pesquisa recente do MHI com foco em entender as diferenças geracionais descobriu que 70% das pessoas da geração do pós-guerra viam sua qualidade de vida geral como mais alta em oito pontos percentuais do que os entrevistados da geração Z21.
Os fatores influenciadores de ordem pessoal e os de ordem social podem exemplificar a superposição entre a aptidão física e a cognitiva. Por exemplo, vários estudos mostraram uma ligação entre níveis mais altos de atividade física e melhor saúde cerebral. Entre eles está uma meta-análise de 2019 que concluiu que a atividade física, sobretudo de intensidade moderada a alta, tem impactos positivos na cognição e reduz o risco de desenvolver transtornos cognitivos, como a doença de Alzheimer22.
Ao analisarem o engajamento social e espiritual, cientistas sociais identificaram o isolamento social e a solidão como problemas crescentes, com taxas relatadas de solidão em adultos de idade avançada atingindo 20% a 34% na China, Europa, América Latina e Estados Unidos23. De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, o isolamento social aumenta o risco de morte prematura – risco semelhante aos observados com relação ao tabagismo, à obesidade e à inatividade física.
Os habitantes de países de alta renda desfrutam de uma diferença de até 27 anos na expectativa de vida saudável (EVS) ao nascer, em comparação com os nascidos em países de baixa ou média renda25. Contudo, dentro de um mesmo país, a EVS pode variar muito – por exemplo, na Inglaterra, as pessoas que vivem nas regiões menos favorecidas têm uma EVS 19 anos inferior à das regiões mais favorecidas26.
Seis mudanças para promover o envelhecimento saudável globalmente
O MHI identificou seis mudanças que seriam necessárias para darmos uma guinada no envelhecimento saudável em todas as quatro dimensões da saúde (Quadro 3).
Mudança 1: investir na promoção do envelhecimento saudável
Globalmente, há um subinvestimento na prevenção de doenças ou da mobilidade reduzida. Por exemplo, os países europeus investem, em média, 2,8% de seu orçamento de saúde na prevenção27. Embora o caminho para o envelhecimento saudável comece na idade adulta, há muito que se pode fazer nos anos posteriores da vida. Mais iniciativas de prevenção devem ser focadas em problemas relacionados à idade, como demência e deficiências sensoriais28. Outras iniciativas de prevenção podem se concentrar em como os adultos gerenciam problemas como a depressão ao longo da vida e como os adultos de idade avançada podem continuar a encontrar propósito, conexões sociais e segurança financeira, além de estratégias para incentivar a atividade física na vida toda, mesmo levando-se em conta as alterações de mobilidade com a idade. Além disso, estudos anteriores indicaram que os programas de prevenção – tanto clínicos (por exemplo, tecnologia auditiva para pessoas com deficiência auditiva)29 como não clínicos (por exemplo, focados na melhoria da moradia, das conexões sociais e da aptidão física)30 – podem melhorar a qualidade de vida dos adultos de idade avançada, o que pode reduzir a necessidade de assistência médica ao longo do tempo. Um fato interessante é que apenas 20% dos fatores de saúde considerados modificáveis estão associados à assistência médica, sendo que fatores não clínicos se referem aos outros 80%31 (ver coluna “O fardo do envelhecimento dos adultos de idade avançada pode ser aliviado por meio de intervenções preventivas no estilo de vida” (Quadro 4).
Investir nessas medidas preventivas – em todas as quatro dimensões da saúde – pode permitir que os adultos de idade avançada desfrutem de uma melhor qualidade de vida, aumentem sua contribuição social e econômica e possivelmente reduzam os custos relacionados à saúde no longo prazo. O investimento deve ser complementado por pesquisas para identificar futuras medidas preventivas baseadas em evidências, com estudos baseados em dados do mundo real sobre as intervenções promissoras, como dispositivos vestíveis, bem como intervenções audaciosas, como mirar no próprio envelhecimento e tratá-lo (ver coluna “E se a ciência pudesse ‘mirar’ nos efeitos prejudiciais do envelhecimento e, quem sabe, retardá-los?”).
Mudança 2: aprimorar a mensuração em saúde e obter dados melhores
Mesmo em países de alta renda e tecnologicamente avançados, nenhum conjunto de dados padronizados é capaz de esclarecer a diversidade de condições de saúde dos adultos de idade avançada ao longo do tempo nas quatro dimensões, muito menos seus atributos pessoais, seus comportamentos e os fatores ambientais. Embora existam tecnologias para a captura desses vários dados, obter acesso a esses conjuntos de dados, integrá-los e interligá-los continua a ser um grande desafio. Além disso, essas mensurações são limitadas e nem sempre correspondem às prioridades de um adulto de idade avançada, seja pegar um neto no colo, seja dirigir por longas distâncias, seja ainda conseguir costurar.
O primeiro passo pode ser definir um catálogo padronizado de dados e mensurações que utilizem diversos exemplos existentes32. Os governos também podem pensar na possibilidade de compartilhar e integrar fontes de dados entre instituições públicas, entidades de saúde, universidades, empresas e pessoas para criar dados longitudinais integrados de alta qualidade que englobem todas as quatro dimensões da saúde. Isso requer o estabelecimento de uma troca colaborativa de dados que proteja a privacidade dos pacientes, inclusive medidas rigorosas de privacidade de dados e direitos de propriedade intelectual. Essa riqueza de dados pode permitir um melhor entendimento das necessidades bastante variadas dos adultos de idade avançada e monitorar passivamente suas condições específicas (por exemplo, o desempenho cognitivo ao longo do tempo), proporcionando uma base sólida de evidências para políticas ou intervenções personalizadas. O objetivo de longo prazo é criar formas de mensurar a saúde holística orientadas e respaldadas por dados padronizados e integrados.
Mudança 3: escalar as intervenções que comprovadamente promovem o envelhecimento saudável
Pelas estimativas de um estudo recente, os anos de vida ajustados por incapacidade33 (DALYs, na sigla em inglês de “disability-adjusted life years”) dos adultos de idade avançada poderiam ser reduzidos em quase 30% somente pela aplicação de intervenções já comprovadas. Essas intervenções incluem, por exemplo: ter uma alimentação saudável; realizar atividade física; abordar comportamentos sociais (como parar de fumar); e garantir o acesso a terapia voltada à saúde mental e a vacinas, medicamentos para a prevenção de doenças cardíacas, diabetes e derrames34. Nas palavras de um médico, “os exercícios são a coisa mais próxima que temos de uma pílula antienvelhecimento”35.
Alguns exemplos de intervenções escaláveis incluem:
- Melhoria da qualidade de vida por meio do manejo de doenças relacionadas à idade,como observado no NEXUS, um modelo revisado por pares voltado à demência em estágio inicial, que sugere a incorporação de atividades sociais e físicas, de redução do estresse, de exercícios cognitivos, de grupos de apoio e de programas digitais36 à assistência a adultos de idade avançada em domicílio e em estabelecimentos clínicos. Da mesma forma, o acesso à tecnologia e seu uso podem elevar a qualidade de vida. Terapias baseadas em jogos, como o sistema Tovertafel, estimulam a atividade física e estão correlacionadas à redução da tristeza e ao aumento da interação social em adultos com demência em estágio intermediário a avançado37.
- Iniciativas de engajamento que combatem o isolamento e dão um sentido de propósito, como observado em vários programas com resultados comprovados, como os de envolvimento de adultos de idade avançada no cuidado de crianças38, de volta aos estudos39 e de adoção de esquemas semiprofissionais inovadores que envolvem os adultos de idade avançada de novas maneiras40. Ademais, essas intervenções podem contribuir com desafios de outras áreas – por exemplo, ao ampliarem a força de trabalho ou reforçarem o voluntariado.
- Programas e tecnologias que promovem a independência e o envelhecimento em casa, como observado nos complexos habitacionais multigeracionais financeiramente acessíveis do Japão, que incluem assistência formal financiada pelo governo41, ou nas Casas para Grupos de Adultos de Idade Avançada de Singapura, que reúnem adultos de idade avançada com dificuldades de mobilidade em um conjunto de unidades de aluguel42. Isso pode ser auxiliado tecnologicamente por métodos minimamente invasivos, como dispositivos vestíveis ou a tecnologia de radar da Vayyar, que detecta até mesmo pequenas quedas sem câmeras ou equipamentos vestíveis43.
- Abordagens humanistas de assistência que promovem conexão com os cuidadores diretos e priorizam uma assistência holística, como observado em abordagens mais recentes da assistência domiciliar que incorporam o ambiente natural e uma assistência centrada na pessoa (como o Eden Alternative44 ou o Green House Project) ou em modelos de assistência comunitária, como o modelo da Buurtzorg, no qual os enfermeiros, atuando em pequenas equipes autogeridas, assumem total responsabilidade por deixar “seus” clientes mais fortes e independentes46.
Mudança 4: acelerar as inovações em todo o ecossistema do envelhecimento saudável
A inovação deve incluir o foco tradicional nas ciências da vida, mas deve também ir muito além dele. Para fomentar a inovação nas quatro dimensões da saúde em toda a sociedade, é necessário promover e financiar colaborações na intersecção entre as ciências da vida, o digital, a tecnologia e os serviços. Já existe capital de risco substancial entrando no campo do envelhecimento, e algumas empresas estão começando a adaptar seus produtos e serviços à população idosa (por exemplo, auxílio remoto e serviços de consulta médica rápida)47. Os governos podem apoiar ainda mais essas iniciativas ao adotarem uma abordagem do envelhecimento saudável que envolva todo o governo, reforçando o papel da colaboração e do suporte em todos os departamentos. Também pode patrocinar “organizações com foco em pesquisa” voltadas a tópicos que são preteridos por não serem viáveis para investimento privado nem grandes o suficiente para o investimento público – por exemplo, a disponibilidade de conjuntos de dados abrangentes48 (ver coluna lateral “Aprendendo com intervenções bem-sucedidas em outros países: a impressionante jornada sul-coreana de aumento da expectativa de vida saudável traz lições para todos”).
Duas áreas se beneficiarão de inovações maiores e mais ambiciosas:
- Melhorar o tratamento da demência e seus resultados requer uma abordagem holística com intervenções farmacológicas e não farmacológicas. Globalmente, a demência é o sexto fator mais importante da carga de deficiência de pessoas maiores de 55 anos – deverá ser responsável por 55,1 milhões de DALYs em 203049 e teve um custo global anual de $ 1,3 trilhão em 202050 –, o que ressalta o imperativo de agirmos. Com relação aos fármacos, uma maior colaboração global, como financiamentos decisivos e compartilhamento de dados, pode levar a P&D ao sucesso. Por exemplo, um megafundo com financiamento governamental pode abrir vários caminhos para o desenvolvimento de medicamentos para a demência, a fim de ajudar a superar as taxas tradicionalmente altas de insucesso em P&D. Isso deve ser complementado por intervenções não farmacológicas. Sabe-se bem, a partir de estudos de longa duração com grande número amostral (por exemplo, um estudo do UK Biobank com mais de 500 mil pessoas), que os exercícios, sobretudo os de intensidade vigorosa, diminuem significativamente o risco de desenvolver demência51. A atividade física – em todas as suas formas, desde tarefas domésticas até caminhada, natação e corrida –, especialmente no início da vida, tem sido associada a um impacto neuroprotetor na função cognitiva. À medida que os adultos envelhecem, devemos incentivar a manutenção ou a adoção de hábitos e hobbies saudáveis que estão associados à melhoria da função cognitiva, como a dança52 e o xadrez53.
- Diminuir a escassez de profissionais de assistência a adultos de idade avançada é um desafio para a humanidade com um imperativo financeiro. Somente nos Estados Unidos, o custo da assistência informal a adultos de idade avançada supera $ 500 bilhões por ano54. Na Austrália, mais de 35 mil profissionais de assistência a adultos de idade avançada são necessários para suprir a carência55. Os países vêm adotando abordagens diferentes. Um exemplo: o governo de Singapura está ajudando instituições a aumentar os salários56, e o Ministério da Saúde da Suíça vem testando um conceito denominado “banco de tempo”, pelo qual as pessoas se voluntariam para cuidar de adultos de idade avançada que precisam de auxílio, e o número de horas passadas dando assistência é depositado em sua conta individual de previdência social. No exemplo de Singapura, quando um voluntário atinge a idade em que deseja apoio, um voluntário cuidará dele de acordo com seu saldo de tempo depositado57. Todavia, provavelmente não há uma intervenção única que seja suficiente para fazer face ao enorme déficit de profissionais de assistência e às pressões da acessibilidade financeira. Mas serão necessárias soluções de assistência acessíveis, inclusive do ponto de vista financeiro, para garantir dignidade e independência na terceira idade.
Mudança 5: liberar o potencial que todos os setores têm de viabilizar o envelhecimento saudável
A saúde é relevante para todos os setores, e há potencial para desenvolver produtos e melhorar a infraestrutura a fim de contribuir para o envelhecimento saudável. Atores não relacionados à saúde podem desenvolver produtos e serviços voltados às necessidades dos adultos de idade avançada e fornecer infraestrutura inclusiva, em especial no local de trabalho. Os empregadores podem destinar recursos financeiros à assistência a adultos de idade avançada, integrar adultos de idade avançada à força de trabalho (por exemplo, criando possibilidades formais de “segunda carreira” para que adultos de idade avançada aposentados voltem ao trabalho – como o programa U-Work da Unilever, testado primeiramente em dez países e bem-sucedido a ponto de a empresa lançar um programa de estágio para maiores de 60 anos na Argentina)58 e atuar para reduzir a discriminação etária no ambiente de trabalho. As intervenções mais animadoras provavelmente virão de colaborações intersetoriais – imagine receber viagens gratuitas no transporte público para cada treino físico curto realizado59, estímulos nutricionais adequados ao estágio de vida no caixa do supermercado ou possuir tecnologia em casa capaz de identificar e prevenir o declínio físico ou cognitivo. Essas intervenções podem complementar as inovações em “tecnologia da idade” observadas em ambientes tradicionais de assistência médica para adultos de idade avançada, como o robô Bocco Emo, que monitora pacientes de clínicas de repouso e “conversa” com eles enquanto avisa a equipe de que é necessária assistência de enfermagem60.
Alguns outros possíveis exemplos de como os setores podem promover o envelhecimento saudável por meio de produtos, serviços ou infraestrutura:
- O setor público pode reestruturar seu modelo de suporte ao cidadão de modo a tornar os serviços mais acessíveis; uma das opções é estruturar de acordo com o estágio de vida em vez da idade. Por exemplo, o governo japonês desenvolveu um plano de ação para implementar uma sociedade “sem idade”, com medidas em todas as dimensões da saúde61. Além disso, o setor público pode oferecer atividades de lazer como um serviço para fomentar as interações sociais, como acontece nas organizações artísticas e centros comunitários do Canadá, que oferecem atividades de dança ou escrita62.
- Partes do setor de tecnologia e jogos estão criando plataformas mais acessíveis e inclusivas para adultos de idade avançada, como aqueles com deficiências visuais, auditivas ou de mobilidade, com vistas a promover seu envolvimento físico, mental e social. A título de exemplo, a Xbox criou um controle adaptado para jogadores com mobilidade reduzida e adultos de idade avançada63, e diversas organizações oferecem versões acessíveis de celulares e tablets64
Mudança 6: empoderar e motivar os adultos de idade avançada a viver seu pleno potencial
As pessoas têm um papel importante a desempenhar em sua própria saúde. O MHI acredita que uma combinação de educação em saúde, inovações nos setores público e privado e aplicação resoluta de políticas públicas aumentarão a capacidade das pessoas de influenciar seus próprios resultados de saúde. Para o mundo em processo de envelhecimento, isso exigirá diversas medidas:
- Educação e adoção generalizada de práticas autodirigidas que reforçam o papel e a responsabilidade das pessoas em seu envelhecimento saudável. Isso inclui atividade física, alimentação saudável, conexões sociais e envolvimento cognitivo – e é importante adotar esses hábitos o mais cedo possível, idealmente na infância ou no início da vida adulta, a fim de obter o máximo benefício nos estágios posteriores. Para promover essas atividades, deve haver apoio suficiente para manter a capacidade visual adequada (por exemplo, auxílio financeiro para cirurgias de catarata).
- Envolvimento contínuo na comunidade por meio do voluntariado, do trabalho ou da realização de atividades com propósito pelo maior tempo possível. Em Nova York, a Secretaria de Envelhecimento está incentivando os aposentados de órgãos governamentais da cidade a buscar trabalhos temporários de meio período que lhes permitam permanecer ativos e servir à comunidade65.
- Infraestrutura inclusiva do setor público para uma sociedade em processo de envelhecimento, com o intuito de promover a participação ativa em detrimento da dependência. Isso inclui, por exemplo, focar no estágio de vida – e não na idade – no que tange a prestação de serviços sociais e oferecer um sistema de transporte público frequente, seguro e acessível, inclusive financeiramente, que seja desenhado para as necessidades dos usuários de idade mais avançada (por exemplo, sons de alarme mais altos, placas com caracteres maiores).
Uma nova era para o envelhecimento saudável
Em uma época de rápidas mudanças demográficas, é essencial aproveitar esta oportunidade para promover o envelhecimento saudável e a participação dos adultos de idade avançada. Ao pensar na própria mortalidade ou no envelhecimento dos familiares ou da força de trabalho, é importante perguntar: como as pessoas podem viver mais tempo e de forma mais saudável? O MHI, com seu foco em “adicionar anos à vida e vida aos anos”, acredita que o envelhecimento saudável é um imperativo. As pessoas devem esperar e exigir um período prolongado de boa saúde na terceira idade e precisarão decidir como usar essa capacidade.
Será possível aumentar os anos que se passa em boa saúde se todos os stakeholders se engajarem tanto no potencial a ser destravado quanto no desafio a ser ultrapassado. O MHI procura trabalhar em colaboração com organizações líderes do mundo todo para catalisar ações práticas em face dos desafios mais prementes que o mundo em processo de envelhecimento enfrenta hoje.
Nós sabemos o que é possível. Agindo em conjunto, a sociedade é capaz de criar um mundo no qual seus adultos de idade avançada poderão esperar uma vida mais longa e de melhor qualidade.