Nos últimos anos, o Brasil melhorou consideravelmente sua infraestrutura digital, mas, mesmo assim, permanece atrás da média mundial em aspectos-chave como acessibilidade, abrangência de sinal e velocidade de transmissão de dados. Há um senso comum, entre analistas e especialistas em tecnologia, segundo o qual a baixa renda da população e a infraestrutura digital deficiente seriam os maiores obstáculos para que os brasileiros não explorem todos os recursos tecnológicos disponíveis. No entanto, o estudo da McKinsey vai além e mostra que a outra barreira extremamente relevante para a inclusão tecnológica é a falta de habilidades digitais dos brasileiros. Caso elas sejam aprimoradas, a tendência é que se crie um ambiente favorável que beneficie pessoas e empresas, criando oportunidades para um aumento de renda, de produtividade e de bem-estar social.
As tecnologias digitais mudaram a forma como as sociedades funcionam, os indivíduos se relacionam e as empresas trabalham. De maneira geral, o acesso a aplicativos, programas de busca e sites de venda eletrônica gera um valor significativo para pessoas como cidadãos, consumidores e trabalhadores, o que se reflete também na economia: uma pesquisa da McKinsey estimou que, já em 2010, a internet respondia por 2,9% do PIB global1.
Entretanto, ao mesmo tempo em que o mundo digital incentiva o desenvolvimento, ele também produz desigualdade. Calcula-se que hoje cerca de 3,5 bilhões de pessoas, ou 50% da população mundial, ainda não têm acesso à Internet2. No Brasil, a situação é um pouco melhor, mas não muito – as estimativas mostram que cerca de 30% da população (algo entre 60 e 65 milhões de pessoas) permanecem desconectadas do mundo digital3.
Apesar de avanços em relação aos últimos 20 anos, o Brasil permanece um país de baixa renda com lacunas de infraestrutura digital. No entanto, estudos recentes mostram, que, curiosa e paradoxalmente, a baixa renda e a infraestrutura não são as principais barreiras que estão impedindo que 30% dos brasileiros tenham acesso a todos os recursos possibilitados pela internet: apenas 18% dos brasileiros afirmam que não usam a internet por falta de acesso ou de aparelhos4. O que está impedindo o acesso pleno ao mundo virtual é própria falta de intimidade e de habilidade dos brasileiros com a tecnologia.
A situação fica ainda mais curiosa ao se considerar o fato de que, em 2017, com cerca de 8,9 horas por dia, o Brasil foi o vice-campeão mundial na categoria “tempo gasto na internet”. Como comparação, os Estados Unidos ficaram em sexto lugar no ranking mundial, com 6,3 horas, e o Reino Unido, em nono lugar, com 5,8 horas. À frente do Brasil está apenas as Filipinas, onde os habitantes dispendem 9,0 horas diárias na rede.
O que está levando os brasileiros a passarem tanto tempo por dia na internet? Realizado em 2018, o estudo Google Consumer Barometer revelou quais são as atividades tecnológicas preferidas dos brasileiros. Em primeiro lugar, estão as conversas virtuais em aplicativos como o WhatsApp e congêneres, protagonizadas por 83% dos usuários. Em segundo, as redes sociais, frequentadas diariamente por 56% das pessoas. Apenas na terceira posição, empatados com 54%, estão a leitura de notícias e o uso de mecanismos de busca, ou seja, a comunicação é o foco principal do brasileiro. Nos Estados Unidos, por exemplo, a categoria mais acessada (por 62% dos usuários) é a dos mecanismos de busca, seguida então pelas mídias sociais, com 59% dos americanos se conectando a elas todos os dias.
À luz dessa tendência, a McKinsey realizou uma pesquisa para mapear os principais déficits e os pontos fortes digitais dos brasileiros e entender quais são as principais razões que levam as pessoas a não desenvolver todo o seu potencial tecnológico.
A pesquisa, concluída em novembro de 2018, pediu aos seus 2.477 entrevistados que fizessem uma autoavaliação, dando-se nota de 1 a 10 em 62 habilidades diferentes (desde ligar o computador a desenvolver um aplicativo), sendo cada uma destas enquadradas em uma das cinco macrocategorias seguintes: habilidade de acesso (conhecimento necessário para a configuração e o manuseio básico de aparelhos digitais ou programas de computador), habilidade de uso (capacidade para acessar conteúdo relevante de forma eficiente e interagir com o mundo digital), habilidade de segurança (compreensão dos riscos a que se submete no mundo digital), cultura digital (desenvolvimento de mentalidade e comportamentos que permitem aprender com testes rápidos, melhoria contínua e aproveitamento das tecnologias digitais) e habilidade de criação (competência para utilização de dados e informações para gerar conteúdo ou insights, e também para criar, programar e desenvolver soluções digitais).