O tema passou a habitar o zeitgeist das dinâmicas do capitalismo contemporâneo de forma explícita e estruturada. Só 15% das companhias listadas na S&P500 ainda não apresentam relatórios de boas práticas relacionadas a ESG – mesmo que existam avanços a serem feitos sobre a padronização dessas métricas, fica claro que há uma adesão massiva à agenda.
Na nossa última pesquisa do McKinsey Global Institute (MGI) sobre o tema pudemos verificar que a vasta maioria dos executivos e profissionais de investimento concorda que os programas ESG afetam positivamente o desempenho das empresas, sendo que 83% dos líderes executivos (C-level) e profissionais de investimento do mundo afirmam que esperam que os programas ESG contribuam com mais valor para os acionistas. Já os acionistas declaram que estarão dispostos a pagar cerca de 10% acima do prêmio médio para adquirir uma empresa com histórico positivo para questões de ESG.
Chegamos ao momento em que a ideia - já existente há tempos - de que uma empresa deve gerar valor para a sociedade como um todo e não apenas para si ganha contornos de urgência. Se por um lado isso pode ser visto como pressão sobre as lideranças mais resistentes a repensar o papel e a contribuição das empresas na sociedade e no meio-ambiente é, sem dúvidas, também uma oportunidade para que as empresas entendam como gerar valor pautadas pela agenda ESG.
Está claro que gradativamente a sociedade se importa cada vez mais com o impacto ambiental e social de toda a cadeia do produto, governos têm incorporado essa agenda nas regulamentações que determinam os limites para a atuação das empresas e mercados financeiros têm recompensado estratégias bem-sucedidas de ESG. Estamos diante de uma mudança imediata e de dimensões e impactos que têm potencial para serem "tectônicos".
Compreendendo seu potencial de impacto
Tendo em vista esse cenário, líderes das empresas estão discutindo com seus conselhos como avançar na direção dessas demandas e, para isso, estão se deparando com uma pergunta quase que existencial: “como colocar os temas da agenda ESG no centro da estratégia de suas companhias?”. Sim, é preciso deitar no divã e fazer a lição de casa de olhar para dentro e pensar com franqueza como levar a mudança para o núcleo de atuação da empresa.
E aqui não há uma abordagem one size fits all, cada empresa apresenta um contexto específico que vai direcionar quais ações fazem mais sentido, pensando sempre no maior potencial de impacto. Esse deve ser o principal crivo para se priorizarem ações, que podem visar diminuir impacto negativo, gerar impacto positivo ou compensar impactos negativos que não podem ser reduzidos.
Sendo um agente de influência
Aqui entra o desafio de como gerar uma influência positiva à pauta ESG ao longo de toda a sua cadeia de valor, passando por todos seus stakeholders e também pela sociedade em geral: os CEOs têm um papel fundamental como agentes dessa agenda para além da sua empresa.
Isso passa por questionar seus fornecedores e parceiros sobre sua conformidade com ESG, privilegiando os que corroboram com a agenda – e também auxiliando outros no desenvolvimento de soluções que caminham nessa direção. Tudo isso visando oferecer para a sociedade produtos e serviços que trazem maior benefício ambiental ou social, um impacto positivo que chegará até os acionistas, que, assim, podem ser convencidos do potencial de criação de valor.
Criatividade e disciplina
Ao longo de todo o processo, os CEOs que têm obtido maior sucesso são os que reconhecem a adoção da agenda ESG como uma transformação da companhia e adotam uma abordagem sistêmica e organizada, com entregas claras e de impacto significativo. Implementações bem-sucedidas lastreiam também o processo em KPIs, metas claras e alocação de responsabilidade a líderes na companhia.
Vale ressaltar no entanto, que apesar dealguma semelhança com casos de negócios usuais, nem sempre a abordagem que realmente gera impacto é óbvia e a criatividade é um recurso relevante na solução de desafios que podem ser bastante complexos – inovar e pensar fora da caixa são estratégias necessárias.
Já não são raros os exemplos de empresas, no Brasil e no mundo, que passaram por esse processo de transformação e criaram soluções, produtos ou práticas que adequaram a companhia às demandas da agenda ESG e, ao mesmo tempo, fomentaram a criação de valor.
Há casos das mais diversas naturezas. Desde empresas de alimento buscando alternativas mais saudáveis para substituir ingredientes que podem representar algum risco à saúde dos consumidores, passando por grandes produtoras agrícolas que passaram a vender cotas de crédito de carbono para que outras empresas pudessem praticar a compensação de emissões das suas atividades.
O que fica claro é que em um mundo de recursos limitados e com uma sociedade cada vez mais consciente das responsabilidades das empresas, a adoção de uma agenda ESG sólida e coerente é uma premissa básica para o seu sucesso. Afinal, companhias que conseguem entregar os produtos que a sociedade deseja de forma consistente crescem acima da média e ganham mercado – contribuindo, em simbiose, para o futuro da nossa sociedade.